Devido à grande apetência do povo citadino pelo Carnaval, o Teatro Central decidiu também abrir as suas portas a este evento. Ao contrário das freguesias onde as entradas são gratuitas, o Teatro Central optou por bilhetes pagos o que gerou alguma polémica visto o Carnaval ser de graça desde sempre nas sociedades recreativas. Porém este facto não impediu que multidões se juntassem junto ao Teatro para comprar bilhetes para os dias do Entrudo.
O sucesso do Carnaval no Teatro Central ia aumentando de ano para ano de tal modo que a multidão já formava fila várias dias antes de abrir a bilheteira passando as noites ao relento sem arredar pé. Para evitar esta violência de passar noites e dias na fila, algumas pessoas com mais posses começaram a pagar a outras para ficarem em vez delas naquela longa espera.
Ainda assim e com o fim de terminar com aquela tortura desumana, algumas pessoas aficionadas do tal Carnaval tiveram a ideia de organizar a fila de modo a evitar passar tantas horas na rua ao frio e chuva. Era mais ou menos assim: cada pessoa que quisesse bilhetes deixava o seu nome e podia ir embora com a condição de estar presente quatro vezes por dia (às 8, às 12, às 18 e às 24 horas) altura em que se fazia a chamada dos nomes inscritos. Se a pessoa não estivesse presente à chamada perdia a sua vez.
Ora num destes anos passados, o patrão do meu primo, pessoa de elevado estatuto social e que gostava muito do Carnaval contratou uma figura típica muito conhecida por ter uns jeitinhos amaricados e fazer trabalhos domésticos em algumas casas nobres da cidade. Esse indivíduo era conhecido pelo nome de “Fresquinho”.
Vai então o “Fresquinho” dar o seu nome para a fila do Teatro a mando do patrão do meu primo comprometendo-se a comparecer nas chamadas seguintes até ao dia da abertura da bilheteira.
Acontece que talvez derivado ao ter apanhado o frio e a chuva da meia-noite ou aos trajes leves com que se exibia, o “Fresquinho” viu-se a braços com uma valente gripe e teve que informar o patrão do meu primo que não podia estar na próxima chamada para a compra dos famosos bilhetes. O nobre senhor, que viu a hora da chamada a aproximar-se, não teve outro remédio do que correr a juntar-se às centenas de pessoas que aguardavam ansiosamente ouvir o seus nomes.
Com o sucessivo gritar de nomes, o patrão do meu primo ficava cada vez mais receoso de não ouvir o seu no meu daquele burburinho todo.
Então a certa altura ouve-se alto e em bom som:
- “Fresquinho”
O nobre senhor, como uma mola, põe-se aos saltos no meio da multidão e grita na direcção da porta do Teatro, provocando uma gargalhada geral:
- Sou eu, sou eu !
De: Júlio Silva - Futebol e Celebridades em 3D
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